O Iraque destinou mais de US$ 100 mil milhões para projectos que abrangem infraestrutura, energia, água, moradia e turismo para os próximos anos, segundo avançou o portal zawya.
Mas o segundo maior produtor de petróleo da OPEP parece estar sofrendo com escassez de dinheiro, alimentando especulações de que pode não ser capaz de financiar todos esses projectos.
No mês passado, Bagdá emitiu quase US$ 2,3 mil milhões em títulos para bancos locais, numa tentativa de lidar com o crescente déficit orçamentário, de acordo com a unidade de estudos iraquianos do Rawabet Research Centre, sediado em Amã.
“Esta decisão desencadeou ampla discussão e controvérsia sobre a situação econômica e financeira no Iraque e as estratégias seguidas pelo governo para lidar com essa situação, dada sua forte dependência das exportações de petróleo bruto”, disse.
O relatório observou que o Iraque alocou mais de US$ 100 mil milhões para projectos, acrescentando: “Isso significa que os gastos devem aumentar enquanto os preços do petróleo parecem estar enfraquecendo… a questão é se o Iraque será capaz de financiar esses projectos”.
Onda de empréstimos
Apesar das recorrentes garantias oficiais de que a situação financeira é forte, as ações recentes do Iraque indicam exatamente o oposto.
Enquanto o projecto de orçamento de 2025 permanece guardado nas gavetas do gabinete e o parlamento implora por sua divulgação, o Iraque intensificou os empréstimos.
No primeiro trimestre deste ano, o Ministério das Finanças emitiu títulos no valor de mais de sete bilões de dinares iraquianos (US$ 5,4 mil milhões) apenas para pagar servidores públicos.
Mas esses fundos não foram suficientes. No mês passado, o gabinete autorizou o Ministério das Finanças a retirar quase 3 biliões de dirhams iranianos (US$ 2,3 mil milhões) de economias fiscais de cinco anos.
Uma carta do gabinete solicitou ao Ministério das Finanças que usasse os fundos fiscais para pagar os salários dos funcionários públicos de abril e dos meses seguintes.
A carta em árabe, intitulada “decisão ministerial número 294, 2025”, dizia que esses fundos poderiam ser devolvidos à poupança fiscal assim que houvesse liquidez disponível.
Nabil Al-Marsoumi, professor de economia na Universidade de Basra, no sul do Iraque, disse que Bagdá arrecadou mais de IQD 30 biliões (US$ 23 mil milhões) em receitas de exportação de petróleo no primeiro trimestre de 2025, a um preço médio do petróleo bruto de cerca de US$ 72.
“No entanto, emitiu títulos com um valor de mais de IQD 7 biliões e usou mais de IQD 3 biliões de economias fiscais apenas para pagar funcionários do governo”, disse Al-Marsoumi em uma publicação no Facebook na semana passada.
“Parece que a situação financeira do Iraque está se deteriorando em meio à queda nos preços do petróleo, que podem continuar caindo até chegar a US$ 50 o barril.”
Dependência das receitas do petróleo
O Iraque, que produz cerca de quatro milhões de barris de petróleo bruto por dia, depende fortemente das vendas voláteis de petróleo, que fornecem quase 90% de sua renda nacional.
Após um aumento nos gastos e a ausência de grandes aumentos na receita, o Iraque sofreu com pesados déficits fiscais nos últimos anos.
Em comentários na imprensa local no mês passado, um assessor do primeiro-ministro Mohammed Al-Sudani disse que o orçamento de 2025 inclui um déficit projetado de cerca de IQD 64 biliões (US$ 49 mil milhões) e que a lacuna real pode aumentar caso os preços do petróleo permaneçam abaixo de US$ 70.
Mudhar Saleh disse ao jornal oficial Al-Sabah que os gastos estão previstos em quase IQD 200biliões (US$ 153 mil milhões), o equivalente ao orçamento de 2024.
“O déficit no orçamento deste ano é esperado em torno de IQD 64 biliões… será financiado por fontes nacionais… poderá aumentar caso os preços do petróleo permaneçam abaixo de US$ 70 o barril e as exportações de petróleo bruto do Iraque caiam abaixo de 3,4 milhões de barris por dia”, disse ele.
Em meados de 2023, o Iraque aprovou seu primeiro orçamento de três anos para o período de 2023 a 2025, com base em um preço médio do petróleo de US$ 70 o barril e exportações de petróleo bruto de 3,4 milhões de bpd.
Os gastos anuais foram fixados em cerca de US$ 153 biliões, com um déficit de US$ 49 mil milhões, mas o Parlamento permitiu que o Ministério das Finanças alterasse os gastos ao longo do ano, dependendo das condições do mercado de petróleo.
